museu de arte popular

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o comentário de Alexandre Pomar

Alexandre Pomar responde no seu blog à crónica de Nuno Artur Silva e comenta a nomeação de Andreia Galvão:
MAP: notícia e debates

Já passaram uns dias desde que Nuno Artur Silva * se despediu publicamente do Museu da Língua que dois ministros socialistas quiseram colocar em instalações herdadas da Exposição do Mundo Português. Em versão revista e actualizada, contextualizando nos cenários inventados por António Ferro (e a envolver numa gaiola de vidro dos arquitectos Mateus) a "celebração da Língua nas suas múltiplas realizações presentes".
Ainda não se deu conta da incongruência de associar os conteúdos interactivos e certamente divertidos que nos prometia para o interior dos pavilhões à expressão arquitectónica exterior das prioridades estratégicas da exposição dos anos 40. Os passados traumáticos comuns e os destinos das independências desaconselhavam, como é óbvio, a escolha de um palco tão ideologicamente datado (rústico-modernista?, fascista?). E o conjunto das pinturas murais que o edifício conserva (de Carlos Botelho, Tom, Estrela Faria, Eduardo Anahory, Paulo Ferreira e Manuel Lapa) são um património que inviabilizaria a utilização dos recursos tecnológicos anunciados.

Um humorista ressentido não tem graça e o humor a que nos habituou não é o da piada ignorante. Surprende por isso este exercício confessional com travo a falta de assunto (ou vice-versa).

Começa por ser pretensioso: "Em ano e meio, só por duas vezes participei, a título profissional e nunca remunerado, em iniciativas do Ministério da Cultura, e por convite deste. (Com grande probabilidade menos do que se não conhecesse o Ministro)." Depois confunde: (O Museu da Língua) "foi pensado para ali porque o dito Museu de Arte Popular passaria a integrar o Museu de Etnologia"; de facto nunca se disse tal, mas sim que o MAP era extinto e as suas colecções recolhiam-se no ME, o que é diferente.

Por fim passa por ignorante ao chamar ao MAP "o Museu que celebra o fake popular inventado por António Ferro para a exposição dos anos 40. (E continua) Pode ter a graça do kitsch e pode inclusivamente ser uma versão revista e actualizada que contextualize o lado feira do artesanato." O que se expôs em 1940, e antes nas Exposições de Paris e Nova Yorque (1937, 1939) não foi inventado por António Ferro mas sim por etnólogos que seguiam os critérios então actualizados da sua ciência, internacionalmente aceites e elogiados; à data da inauguração do MAP, em 1948, esses critérios eram já sujeitos a algumas críticas ideológicas e metodológicas, até por parte dum dos principais etnólogos do regime e colaborador de 40, Luis Chaves, mas era também o modernismo possível da equipa de arquitectos e decoradores que se atacava com gosto mais conservador. De facto, esperemos que o museu mumificado e decadente depois da demissão de Ferro (malquerido também pelo regime) renasça com alguma "graça do kitsch", entre outras qualidadses, e que a versão actualizada do MAP saiba prolongar as colecções e dispor de espaços anexos, como se previa nos democráticos anos 80 e 90, para as artes populares de hoje e para os crafts e artesanatos que as continuam ou reinventem.

Como declaração de interesses, já agora, devo acrescentar que foi igualmente como amigo pessoal do ministro, e não só, que pude discutir directamente com ele, em diversas situações particulares e formais, o absurdo desse projecto. E não houve falta de debate público.

* Crónica publicada no Económico (?) no dia 12 de Dezembro de 2009 com o título "Exposição do Mundo Português".

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A crónica sobre o MAP chegou-me por coincidência ao mesmo tempo que a notícia com as declarações da directora em funções desde 1 de Dezembro:

Andreia Galvão é a directora do Museu de Arte Popular
Por Isabel Coutinho, Público 21 Dez. 2009

Andreia Galvão é a nova directora do Museu de Arte Popular (MAP), em Lisboa, e já apresentou à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura deste museu no final de 2010. A ex-subdirectora do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), onde esteve cerca de quatro anos, foi indigitada a 1 de Dezembro e quer fazer do MAP um "museu do século XXI".
Professora na Universidade Lusíada, a arquitecta Andreia Galvão fez a sua tese de doutoramento sobre o trabalho de Jorge Segurado, o arquitecto que, na década de 1940, dirigiu a adaptação do pavilhão Vida Popular (realizado para a Exposição do Mundo Português) para Museu do Povo Português, mais tarde chamado Museu de Arte Popular.
(...)
"Estamos a montar a equipa e já apresentei à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura do Museu de Arte Popular no final de 2010", disse Andreia Galvão ao PÚBLICO. O MAP irá assumir-se como um "museu-documento, mas passível de ter um papel incentivador para a investigação nas diversas áreas disciplinares que o atravessam", explicou a directora, que também quer que este museu se assuma "como uma ponte entre o passado e o futuro através da contemporaneidade". (...)

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Reabrir o museu é uma prioridade, mas, ao mesmo tempo, conviria fazer acompanhar o processo de reabilitação do edifício e de reinstalação das colecções com a criação de condições para acolher o prolongamento do largo debate público que se mobilizou contra o encerramento.

Não se tratando de restabelecer apenas o que existia, há que considerar as variadas sugestões que se fizeram entretanto sobre possíveis direcções complementares do programa museológico a (re)instalar, em termos de montagem de longa duração e de exposições temporárias. Conhecendo-se as limitações financeiras e estruturais do Instituto de tutela (IMC), e reconhecendo-se as implicações deste equipamento nas áreas da economia, do emprego, do turismo, etc, há que ponderar outras possibilidades de gestão e/ou programação assentes em parcerias (público/privado) ou consórcios entre diversos organismos. Recordando as limitações de espaço de que sofria o anterior museu e também os seus anteriores anexos demolidos e projectos de ampliação, há que prever desde o início o futuro crescimento do MAP no espaço adjacente que lhe esteve e está ainda associado.

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