museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

Sebastião Rodrigues

Feira da Primavera 1972

Cartaz de Sebastião Rodrigues para o Mercado da Primavera (realizado anualmente no Museu de Arte Popular). 1972.
Imagem retirada de Sebastião Rodrigues, designer (FCG, 1996).
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Depoimento de Marta Mestre

1. NA MODERNIDADE ENTROU-SE POR VÁRIAS PORTAS

“Entre Belém e o Chiado”, a recorrente frase da História da Arte em Portugal para o ano de 1940, encontra uma renovada expressão no presente debate sobre o futuro do MAP (a sua defesa é dado assente). Neste ano, se em Belém nascia o Pavilhão da Vida Popular (que daria origem ao MAP) no interior do aparato propagandístico do Estado Novo, por seu turno, no Chiado, António Pedro, António Dacosta e Pamela Boden expunham trabalhos surrealistas, influenciados pelo manifesto de André Breton.

A topologia distinta, entre Belém e o Chiado, configura duas estéticas, éticas (e politicas) da mesma modernidade: o interesse pelas artes populares por um lado, e o inconsciente por outro (e os seus correlativos campos do sonho, da desrazão, da actividade artística dos marginais, loucos, crianças e homem comum). Outros campos, como por exemplo, o interesse pela arte primitiva foram igualmente aspectos da mesma construção do moderno, aquilo a que Karl Krauss chamou os “grandes tempos”.

É neste sentido que as artes populares configuram um território vasto, plural e multiforme, que só parcialmente poderá equivaler à construção da cultura popular portuguesa que fizeram a Etnografia por um lado, e as campanhas de António Ferro por outro.

Carece de investigação concertada, mas vindo o MAP a assumir-se, entre outras vertentes, enquanto centro de pesquisa, linhas de estudo como 1) a apropriação de objectos indígenas pelos surrealistas; 2) os desenhos humoristas (de Emmerico Nunes a João Abel Manta); 3) os cadernos de viagem de etnógrafos (agradece-se a Vítor Silva que me chamou a atenção para os desenhos de Fernando Galhano); 4) as exposições de arte negra (como a que organiza Ernesto de Sousa com a colaboração de Diogo de Macedo, na Escola Superior Colonial em 1946, na qual se apresenta estatuária do Benim, Amadeo e Almada, e reproduções (!) de Matisse e Picasso); 5) a obra “autoral” de Franklim, Rosa Ramalho, Mistério, e a história do seu “achamento”; 6) Jaime Fernandes e os “outsiders” contemporâneos; 7) a política da “arte ingénua” de Ernesto de Sousa; 8) a estética “do-it-yourself art” (DIY), etc. permitirão perspectivar criticamente um “campo expandido” do popular.

2. JOSÉ DOS SANTOS (1904-1996)



“Os Portugueses são os maiores escultores do mundo e eu sou o maior escultor de Portugal”, definia assim José dos Santos (1904-1996) as suas qualidades e a supremacia dos escultores portugueses, ele, que andou sete dias à escola e não consta ter saído da aldeia de Arega, perto de Leiria. A notícia deste artista “outsider” e do seu espólio de 250 obras que se encontra em Sydney, chega-nos em boa hora através do Professor Colin Rhodes, (autor da principal bibliografia sobre arte “outsider” e investigador em primitivismo e modernismo). Rhodes situa o trabalho de José dos Santos “undoubtedly (...) in the first rank of self-taught and outsider sculptors” (a fortuna crítica deste artista está, alias, disponível somente em inglês). Actualmente, o trabalho idiossincrático de José dos Santos pode ser visto na exposição “The Greatest Sculptor in the World, José dos Santos: Artist, Visionary, Outsider”, promovida pela Universidade de Sidney - Self-Taught and Outsider Art Research Collection (SCA), onde tem estado conservado em permanência, desde que saiu de Portugal.

O caso de Jaime Fernandes é semelhante. Posteriormente à exposição realizada em 1980 na Fundação Calouste Gulbenkian (de que existe um pequeno catálogo com textos do psicanalista João dos Santos, e de Fernando de Azevedo) e do esplendoroso “Jaime” de António Reis (1974), é preciso ir a Lausanne para ver “jaimes”, na abcd collection.

Em ambos os casos, a confirmação da artisticidade faz-se no exterior do país e das suas instancias de legitimação individuais ou colectivas, possibilitando que estas imagens integrem regimes estéticos que pouco ou nada terão a ver com o genuíno português. Ainda bem.
A invisibilidade destes artistas testemunha “a tremenda dificuldade que temos em misturar culturas que nos habituamos a ver separadas”, aspecto que explicitei no artigo “We are strangers to ourselves”.

Como foi referido no debate de dia 20 pelo Arq. Nuno Portas e pela Professora Raquel H. da Silva, a época actual (tal como o modernismo) presta-se a hibridismos. Neste caso, avance-se e “infecte-se” de novo.



3. UM MUSEU QUE INTEGRE A CONFLITUALIDADE DO SEU OBJECTO

A mobilização que o movimento de cidadãos em defesa do MAP tem gerado é crescente e articula diversos grupos (académicos, simpatizantes, curiosos, profissionais, estudantes, etc). A principal medida deste movimento, ou seja, a interrupção da vontade do Ministro em construir o Museu Mar da Língua no lugar do MAP poderá (esta é uma das nossas propostas) articular-se com propostas museológicas/ culturais para o seu destino (desde o “museu critico” do Arq. Nuno Portas, ao “meta-museu” proposto pelo Professor João Leal). Nesta hora, pense-se o futuro do MAP, como forma de salvaguarda do presente. Uma das formas desta acção passa pela constituição de um “grupo prévio instalador” que trabalhe em propostas reais (neste caso poderíamos estar em face de um futuro caso de sucesso da museologia e da politica cultural portuguesa). A vantagem mais directa desta acção será a interpelação de um maior número de apoiantes (principalmente as gerações mais novas, recém-formadas) face a conteúdos programáticos que prevêem um horizonte de execução. Outra medida essencial passa por alargar a discussão a “outros que sabem sobre” fora de Portugal, nomeadamente, profissionais de projectos museológicos congéneres desde a Finlândia aos EUA (American Folk Art Museum, Union of Rural Education and Culture), projectos editoriais, fundos comunitários europeus de financiamento (Equal Rights to Creativity - Contemporary Folk Art in Europe), investigadores, etc.

Contrariamente àquilo que foi a sua história, o futuro do MAP não é apenas matéria de antropólogos e etnógrafos. A hibridez do conceito “arte popular” mobiliza muitas outras disciplinas (desde a história da arte ao design, desde a música à estética) para além de ser assunto de não-profissionais. O MAP será um projecto sucedido se integrar a conflitualidade do seu objecto (presente à nascença, na oposição estética versus etnográfica entre A. Ferro e a equipa de etnógrafos liderada por Francisco Lage, conteúdos da investigação da Antropóloga Vera Marques Alves). É precisamente o actual debate sobre o futuro do MAP que pode veicular o percurso interrogativo do seu objecto

Marta Mestre, Historiadora de Arte / curadora
Doutoranda em cultura contemporânea - FCSH (Lisboa) / EHESS (Paris)

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Depoimento de Pedro Félix

Não vou entrar em questões estéticas ou ideológicas em torno do "Museu de Arte Popular". Quero partir de uma questão simples e concreta: O que é o "património"?

Por definição, património é algo que se transmite, que é passado, herdado, um bem que é transferido. A cultura, seja cultivada ou não; erudita, tradicional ou popular; é alvo de transmissão.

No entanto, pela sua eficácia simbólica, o Património é uma arma ideológica e política (no seu sentido mais corrente ao sentido mais filosófico). É pelo património que construímos a nossa identidade. Não é pelo património que a percebemos, ou que a representamos. Erro. É pelo património que construimos activamente o que somos pela forma como vemos que fomos.

A questão tão polémica do Museu de Arte Popular prende-se com o facto de muito pouca gente ter percebido do que falava quando falava daquela estrutura museológica. Uns argumentam que a sua defesa é demonstração de nostalgia salazarista, outros falam da "alma do povo"... nada disto me interessa. Nem creio que nos deva interessar. O que acho ser relevante é que durante a vigência do Estado Novo, em particular numa sua primeira forma, se procurou veicular uma "Política do Espírito", uma política operada pela instituição de prémios, de museus, de exposições, de turismo cultural.

A eficácia dessa "política do espírito" está mais do que comprovada. Quem não sabe que Monsanto é a aldeia mais portuguesa de Portugal (concurso que permitiu reunir o grosso do espólio que constitui o Museu de Arte Popular)...? quem não conhece o Galo de Barcelos? Saber se isto é ou não "Portugal", é um debate que deixo aos estetas e aos ideólogos. Uma coisa sei, não há qualquer relação linear que associe univoca e exclusivamente o folklore ao Estado Novo! Se o Museu de Arte Popular integrava o complexo da Exposição do Mundo Português, também acolheu depois do 25 de Abril a "Feira do Povo" e a pintura do mural colectivo dos artistas plásticos em celebração da revolução.... de facto, podiam ter ido pintar para outro lado, mas não, foram para ali... alguma razão terão tido...

A urgência de intervenção exige clareza do argumento e rapidez na sua exposição: Destruir a peça museológica e patrimonial que é o Museu de Arte Popular (entenda-se, edifício, frescos, grupos escultóricos, peças expostas, equipamento expositivo, o próprio programa e estrutura da exposição), é destruir a mais bem conservada e interessante peça dessa "Política do Espírito"; é destruir uma ferramenta para estudar o design, a política estética, a museológia histórica... Desmantelar a colecção reintegrando no Museu de Etnologia é uma violência conceptual que re-semantiza peças. Nunca mais conseguiremos perceber totalmente uma canga de bois com "Viva Salazar" gravado se esta estiver fora daquele edifício, longe dos desenhos do Tom...
Destruir, desmantelar, modernizar afectando estruturalmente o "Museu de arte popular" é um crime, primeiro de falta de reflexão, segundo de gesto iconoclasta sem fundamento.

Por outro lado, a sua conservação (explicando-o, contextualizando, musealizando o Museu) é um gesto de estudo patrimonial da maior riqueza e modernidade. É uma oportunidade radicalmente única de produzir uma máquina de conhecimento, uma estrutura museológica raríssima e moderna. É urgente.

Apelo a todos, seja qual for o seu interesse, a sua perspectiva, a sua motivação, a procurar evitar este erro.

Pedro Félix, antropólogo




Boneco concebido por Tom (Thomaz de Mello) envergando miniatura de traje de pescador da Póvoa de Varzim [1937].
© IMC / MC
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Depois do colóquio

Apontamentos/balanço do colóquio de ontem por Alexandre Pomar:
Propostas não faltam: Musealizar o museu de 1948 (parte dele, em especial a Sala de Entre Douro e Minho, a mais conseguida), documentando e contextualizando como se fez este museu de Arte Popular nos anos 40, nas suas particulares condições de reflexão identitária, estética, museográfica, política, etc - a arte popular entre vanguardismo e tradicionalismo), e actualizar as suas direcções de trabalho. Explorar as memórias da Exposição do Mundo Português, de que o edifício é uma sobrevivência parcelar e parcial. Valorizar o que neste museu antecede a autonomia conceptual do design, considerando quer o trabalho criativo do grupo de pintores-decoradores (também arquitectos de interiores, cenógrafos, ilustradores, designers "avant la lettre") que trabalhou para o SPN/SNI de António Ferro, quer a própria produção popular e tradicional que o Museu recolheu). Alargar a área expositiva ou programar linhas de investigação e exposições temporárias à documentação sobre o Inquérito da Arquitectura Popular em Portugal, da Associação dos Arquitectos, 1955-61. Ou à criação artística nas margens da arte popular, pelos caminhos da "outsider art" e da "art brut". Revitalizar a relação entre o espaço museológico e a criação contemporânea, nas áreas das produções tradicionais sobreviventes e de novas práticas artesanais, que se podem designar às vezes por design e craft. Etc.

Reabrir como Museu de Arte Popular é o objectivo imediato, mas este deve acompanhar-se já com exerícios de imaginação sobre as condições dessa reabertura, que nunca poderá ser apenas repor o que lá estava até agora, em condições penosas de paralisia e decadência. Parte essencial da reflexão que agora se deve abrir é sobre o enquadramento institucional da entidade MAP: Continuar num Instituto dos Museus que em 2006 foi incapaz de defender a sua existência e cujos problemas de funcionamento-orçamento parecem irresolúveis (agravado pelas condições actuais que regulam os concursos para as direcções dos museus*)? Ou inventar uma nova estrutura funcional e de direcção, fundacional ou empresarial, semi-privada ou privada, a actuar sob a vigilância da tutela?
*Se um director (ou sub) da Cinemateca não precisa de ser funcionário público - e foi o actual ministro da Cultura que como advogado tratou de implantar aí uma diferente ordem burocrática -, porque é que só as pessoas com vínculo efectivo à função pública podem concorrer à direcção de um museu do IPM/IMC?

Alexandre Pomar

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Imagens do colóquio de hoje

(clicar sobre as imagens para ampliar)

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP
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Assembleia Municipal defende Museu de Arte Popular

A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta terça-feira uma moção em defesa do Museu de Arte Popular, na qual se pede ao Presidente da Câmara que interceda em favor do MAP junto do Governo:
Texto da moção aprovada dia 16 de Junho de 2009:

Subitamente, “pé ante pé”, eis que surge a ideia, ou mesmo a decisão, de destruir o Museu de Arte Popular, situado em zona privilegiada da Cidade, para construir o Museu da Língua Portuguesa.

Sobre mais esta decisão governamental contra Lisboa, que o Presidente da Câmara Municipal, Dr. António Costa não contesta e aceita, permitimo-nos transcrever o comentário do presidente da Direcção do ICOM – Portugal (International Council of Museums), porque bem elucidativo daquilo que está em causa – “Mas devemos desde já adiantar que entendemos constituir um erro museológico crasso desmerecer ou, pior ainda, pretender ‘apagar’ essa colecção e esse conceito de museu, sem dúvida datado e porventura incómodo para algumas elites actuais, mas incontornável em termos históricos e até cativante para muitos apreciadores dos nossos museus. Constitui, por outro lado, uma violência inqualificável, porventura mesmo um crime patrimonial, destruir ou impedir a fruição plena do edifício do museu, tanto nas suas volumetrias exteriores, como no seu interior, povoado este por frescos monumentais, alguns de grande qualidade artística.”

Perante esta decisão em que o Município é desconsiderado e em que o silêncio do Presidente da Câmara Municipal, Dr. António Costa, é ensurdecedor, impõe-se que a Assembleia Municipal de Lisboa manifeste uma oposição a esta destruição, no quadro das suas competências.

Assim, o Grupo Municipal do PSD propõe que a Assembleia Municipal de Lisboa, reunida em 16 de Junho de 2009, delibere:

1. Manifestar a sua oposição à destruição do Museu de Arte Popular e defender uma política activa de valorização daquele núcleo museológico nos circuitos turísticos e culturais da Cidade de Lisboa.

2. Exigir que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa, defenda, junto do Governo, os interesses de Lisboa, tal como sufragados pela Assembleia Municipal de Lisboa na presente Moção.

3. Dar a conhecer esta Moção ao Governo, aos Grupos Parlamentares na Assembleia da República e ao Museu de Arte Popular.

Assembleia Municipal de Lisboa, em 15 de Junho de 2009

O grupo municipal do PSD

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Ministro da Cultura anuncia encontro

Movimento em defesa do Museu de Arte Popular vai ao ministro

Públlico, 18.06.2009, Isabel Coutinho

Às perguntas dos deputados na audição parlamentar da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, que se centraram principalmente nos polémicos dossiers do Museu dos Coches e do Museu de Arte Popular, o ministro da Cultura respondeu ontem na Assembleia da Républica que são decisões que já vinham de ministros que o antecederam (ele está em funções há ano e meio) e que a contestação pública só está a ser feita agora.

José António Pinto Ribeiro não quer que se tomem decisões que sejam erradas nomeadamente em relação ao Museu de Arte Popular (MAP) mas diz também que não é possível paralisar as acções em função da intervenção de pessoas, é preciso saber quais as soluções para aquele espaço. "O Museu da Língua será feito mas estamos disponíveis para um debate sério e fundado" em que se inclua a preservação do edifício e dos painéis. Revelou ainda que os responsáveis pelo movimento cívico de defesa do MAP lhe pediram uma audiência na terça-feira e que vão ser recebidos. (...)

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Ministro da Cultura reafirma a decisão de instalar o Museu da Língua no Museu de Arte Popular

Em entrevista no Jornal de Letras de ontem e em declarações ao Público (ver artigo), António Pinto Ribeiro volta a insistir na instalação do Museu da Língua no Museu de Arte Popular ao mesmo tempo que admite reavaliar o processo:
Anúncio no final de uma audição na Assembleia da República

Ministro da Cultura vai receber movimento cívico de defesa do Museu de Arte Popular

17.06.2009 - 17h38

Os responsáveis pelo movimento cívico de defesa do Museu de Arte Popular (MAP) vão ser recebidos pela tutela da Cultura para discutir o futuro daquela entidade museológica, revelou hoje o ministro José António Pinto Ribeiro. No final de uma audição na Assembleia da República, o ministro referiu que o grupo de cidadãos que se tem mobilizado em defesa do MAP pediu na terça-feira uma audiência, mas não especificou quando será o encontro.

"Nós estamos dispostos a fazer uma reavaliação, a falar com as pessoas. É preciso compreender que não podemos viver num regime de paralisia dos processos de realização daquilo que são os propósitos de um governo legitimamente eleito. Não podemos pôr isso em causa", sublinhou Pinto Ribeiro.

O futuro do Museu de Arte Popular foi um dos assuntos que dominou hoje a última audição parlamentar de Pinto Ribeiro nesta legislatura.

Perante as questões dos deputados do PSD, PCP e Bloco de Esquerda sobre esta matéria, José António Pinto Ribeiro reafirmou que o Museu Mar da Língua será criado no edifício onde antes funcionou o MAP e que este é um processo que herdou da sua antecessora, Isabel Pires de Lima.

Ainda assim, não retirou importância à discussão em torno do espólio do MAP, que está actualmente depositado no Museu Nacional de Etnologia, e em torno da noção de arte popular e de "craft design", que utiliazam elementos populares e artes manuais. "O debate público chega muitíssimo tarde, mas não quer dizer que não seja justo e oportuno", referiu o ministro da Cultura.

Em defesa do MAP

O movimento cívico de defesa do MAP integra nomes como a historiadora Raquel Henriques da Silva, a artista plástica Joana Vasconcelos, Catarina Portas e Rosa Pomar. No sábado, este movimento cívico organiza um colóquio em frente ao edifício que albergou o Museu de Arte Popular, em Belém.

O encontro, que pretende debater a importância da existência de um Museu de Arte Popular, contará com as participações de Raquel Henriques da Silva, Rui Afonso Santos, Vera Alves, João Leal e Alexandre Pomar.

Esta iniciativa junta-se a outras acções de defesa daquele museu organizadas por este grupo de cidadãos, como o lançamento de uma petição pública e a entrega ao ministro da Cultura de um pedido de reabertura do processo de classificação do edifício do Museu de Arte Popular. No dia Internacional dos Museus, numa acção de protesto, foi bordado um lenço de namorados e posteriormente pendurado numa das fachadas do edifício do museu.

Público, Última Hora, 17.06.2009


Jornal de Letras, Artes e Ideias, 17 Junho 2009, p. 14 (entrevista de Maria Leonor Nunes e Luís Ricardo Duarte).

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Catarina Portas no Semanário Económico



(...) Assumiu a salvação do Museu como causa

Sim. Estou muito envolvida nisso, em evitar que o Museu da Língua destrua o Museu de Arte Popular. Não nos opomos ao Museu da Língua, bem entendido. Acho que é uma excelente ideia, acho é que ele não deve ser colocado ali. O Museu de Arte Popular é um museu e deve conservar uma parte histórica, porque é um dos poucos museus de raiz em Portugal para determinado espólio e tem muitos trabalhos de muitos artistas modernistas portugueses daquela época, muito interessantes e alusivos ao país. Quando digo que o edifício é o todo é porque foi mesmo construído como um todo e achamos que parte disso se deve manter.

(...)

Quando as senhoras da loja do MoMa, trazidas pelo Ministério da Cultura, para investigar o design, ficam babadas em frente às gamelas de madeira talhadas numa só peça por artesãos, e acham aquilo uma peça de design deslumbrante e querem levar a Nova Iorque, tenho vontade de lhes dizer: "Pois é. O mesmo ministério que vos trouxe é aquele que quer acabar com o Museu de Arte Popular". Chamo a isso parolice. Às vezes há um alto grau de parolice nas pessoas que nos comandam. Estão todas deslumbradas quando se fala em Nova Iorque e não percebem onde está o seu potencial.

Catarina Portas em entrevista à revista Outlook (suplemento do Semanário Económico), 13 de Junho de 2009.



Gamela portuguesa de madeira. Imagem © Feitoria
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Colóquio público sobre o MAP no próximo sábado, dia 20 de Junho

Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Rosa Pomar e Raquel Henriques da Silva anunciam uma nova acção a favor do Museu de Arte Popular

O Museu essencial e incómodo: As razões de um protesto: fala quem sabe sobre o Museu de Arte Popular

20 de Junho a partir das 16h frente ao MAP
 
Após uma acção pública de protesto, bordando um lenço de namorados, no dia dos Museus; após a entrega de um pedido de reabertura do processo de classificação do edifício do MAP ao Ministro da Cultura (até ao momento sem resposta); após o lançamento de uma petição pública online em defesa do MAP (quase nas 4.000 assinaturas em 15 dias); após a criação de um blog que tem recolhido informação, documentos e depoimentos de vários especialistas e estudiosos sobre este tema; o grupo dinamizador da campanha cívica a favor da reabertura do Museu de Arte Popular decidiu organizar um  colóquio público interdisciplinar sobre a história e a importância do MAP.

Acontecerá no próximo sábado dia 20 de Junho, a partir das 16h00, diante do Museu de Arte Popular e contará com as intervenções de oradores especialistas de história de arte, antropologia e crítica de arte. 

Temas a abordar: 

Do Pavilhão da Vida Popular ao Museu de Arte Popular - o edifício de 1940 e a sua adaptação a Museu pelo arq. Jorge Segurado (1942-47); as esculturas de 1940 e as de 43-47;  as pinturas murais (decoração, ilustração, museografia), um património ignorado pela história da arte e por identificar; o edifício e a sua decoração - um projecto integrado; o MAP e as suas colecções à luz da antropologia actual.

Raquel Henriques da Silva
Professora de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Rui Afonso Santos
Historiador de Arte, Museu do Chiado

Vera Alves
Antropóloga, autora de «Camponeses estetas» no Estado Novo: Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado da Propaganda Nacional.

João Leal
Professor de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Alexandre Pomar
Jornalista e crítico de arte

Diante de uma decisão ministerial que pretende instalar o Museu da Língua no Museu de Arte Popular, destruindo-o para sempre, uma medida baseada numa imensa ignorância sobre a sua importância e história, propomos uma sessão para ficar a conhecer melhor este Museu. Afinal, por que razão protestamos? 

O Ministro da Cultura será convidado a estar presente.

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O Museu de Arte Popular e a Política do Gosto do SPN

Uma das ideias que acompanhou a política do SPN em torno da arte popular portuguesa foi a da promoção de uma estética simultaneamente moderna e nacional, alargada a várias áreas da vida quotidiana. As artes decorativas em geral e as artes gráficas em particular foram um alvo preferencial da acção de António Ferro e a revista Panorama, criada em 1941, é o testemunho dessa estilização moderna e livre dos motivos do folclore. O Museu de Arte Popular – concebido também como fonte de inspiração para as artistas portugueses -- foi uma peça fundamental dessa política do gosto levada a cabo por Ferro em colaboração com a equipa de pintores-decoradores do Secretariado.  

Neste sentido o Museu de Arte Popular e toda a política etnográfica do SPN/SNI encontra-se já em embrião nos anos 20. Logo em 1921, António Ferro dirigiu a Ilustração Portuguesa, revista que, ao mesmo tempo que defendia a integração de Portugal “na hora que passa”, fazia a promoção de uma estética folclorista na criação de bailados portugueses modernos – uma ideia que só viria a tomar forma com o Verde-Gaio, em 1940. A preocupação de Ferro era então a de construir uma imagem de Portugal enquanto nação moderna, plena de vitalidade no tempo presente, mas mantendo uma identidade distinta de todas as outras nações. Em 1922 as suas convicções foram certamente reforçadas com a sua participação na Semana de Arte Moderna em São Paulo, que reunia um grupo de artistas brasileiros precisamente preocupados em conjugar o moderno com a procura das raízes da cultura brasileira.  

A existência do MAP, acompanhada pela edição da revista Panorama, pela criação do Verde Gaio ou ainda pela edificação das Pousadas de Portugal documenta muito mais do que uma ideologia política própria do Estado Novo. Testemunha um pensamento de raiz modernista que atravessou fronteiras e contagiou intelectuais e artistas como o mexicano Diego Rivera ou os brasileiros Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos.

Vera Marques Alves




Capas de Bernardo Marques para a revista Panorama (números 1, ano 1, 1941 e 8, ano 1, 1942).


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site petitiononline.com em baixo

À beira das 4000 assinaturas, a petição pelo Museu de Arte Popular está neste momento inacessível.  O problema afecta todo o site Petition Online (onde a petição pelo MAP está alojada), e deve-se a um ataque DoS. Esperamos que o problema se resolva brevemente.
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Evitar a Morte do Museu de Arte Popular

O artigo de opinião que João Leal (JL) e Raquel Henriques da Silva (RHS) publicaram em O Público (Março de 2008) sobre o fim anunciado do Museu de Arte Popular (MAP), fala de um museu mal amado. A expressão não podia ser mais apropriada e merece alguma reflexão. A decisão da ex-ministra da Cultura foi o culminar de um processo de negligência e abandono que durava há décadas. E não apenas, como alguns fazem crer, pelo facto do edifício do museu não ter sofrido obras de beneficiação durante largos anos. Os contornos desse abandono são também de ordem museológica e científica: mostrar um museu inaugurado em 1948 pelo SNI (órgão da propaganda do Estado Novo), sem qualquer tipo de contextualização das ideias que presidiram à sua formação, como se o mesmo tivesse acabado de ser concebido, transformou o MAP num lugar algo fantasmagórico.

O museu atraía menos visitantes do que se desejava? É óbvio que sim. Só alguns iniciados, com informação suficiente para reportá-lo à política de uma certa época podia usufruir plenamente do mesmo. A falta de dinâmica transformou-se, pois, numa postura profundamente elitista, deixando a maior parte das pessoas que ali entravam à sua sorte, desprovidas de qualquer ferramenta que as levasse a perceber o que estavam a ver. Poderiam apreciar as peças expostas mas nada lhes dizia o que quer que fosse sobre o que se pretendia mostrar nos anos 40 através daqueles artefactos, nem porque é que eram aquelas objectos e não outros que surgiam em exposição. Porque o que ali estava não era só arte popular e artesanato. Era uma certa visão dos mesmos.

Tal visão não era, contudo, um mero epifenómeno do salazarismo (transcendendo aliás em muito a ideologia do regime); era fruto de um conjunto de circunstâncias históricas que tinham a ver com os percursos da etnografia, não só em Portugal, mas também no resto da Europa (veja-se o livro Etnografias Portuguesas de João Leal); relacionava-se com a construção da imagem dócil do país e do povo subjacente ao projecto de afirmação de Portugal entre os portugueses e face ao mundo que guiava toda a campanha folclorista de António Ferro; tinha, como pano de fundo, uma política de gosto virada para as classes médias da época, estando por isso associada a uma fase determinante das artes decorativas no nosso país; constituía-se como alternativa à celebração da nação apenas através da história. Neste sentido o espaço do museu – a arquitectura do edifício, o seu arranjo decorativo e disposição das peças, as pinturas murais dos pintores modernistas – é essencial para perceber a colecção de objectos que albergava.

Em vez de matar o museu, é de facto altura de, como propõem JL e RHS, musealizá-lo. As possibilidades de exposições temporárias que explorem diferentes dimensões das práticas e representações ligadas ao museu são infindas. Poder-se-á, assim, transformar o Museu de Arte Popular num museu actual, que interesse não apenas aos que procuram apreciar e compreender a arte popular (e sobre este aspecto muito há a dizer), mas também aos que desejam entender a história contemporânea de Portugal. Com arquivos e bibliotecas convenientemente tratados e as colecções estudadas, poderá ser também um excelente local para estudo e investigação. Acabar com ele obedece à mesma lógica subjacente ao abandono dos arquivos históricos durante décadas em armazéns infectos; ao desinvestimento na Biblioteca Nacional; à (não) política de património que deixa emparedar as moradias modernistas construídas nos anos 30 e 40 -- percorra-se as ruas do Estoril que não se vêm a partir da Marginal, para verificá-lo (algumas, aliás, da autoria de Jorge Segurado, o mesmo arquitecto que concebeu o projecto de transformação dos pavilhões da Exposição do Mundo Português no MAP). Aposte-se, pois, na requalificação do MAP e evite-se a sua morte arbitrária.

Vera Marques Alves

Vera Marques Alves, antropóloga, é autora de «Camponeses estetas» no Estado Novo: Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado da Propaganda Nacional, Dissertação de Doutoramento, ISCTE Departamento de Antropologia, Lisboa, 2007
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Depoimento de Rui Afonso Santos

Inaugurado em 1948, o Museu Nacional de Arte Popular constitui a despedida e o testamento espiritual de António Ferro. Director do SNI (Secretariado Nacional de Informação) desde 1933, Ferro desenvolveu à frente deste organismo considerável actividade cultural de índole modernista. Os sucessos como comissário das representações portuguesas enviadas às Exposições Internacionais de Paris (1937), de Nova Iorque e São Francisco (1939), premiadas pela crítica internacional, materializaram-se neste Museu em vias de classificação patrimonial.
Reaproveitando o Pavilhão da Vida Popular riscado pelos arquitectos Veloso Reis e João Simões para a Exposição do Mundo Português de 1940, único pavilhão que resta daquele magno certame (com esculturas e relevos murais exteriores de Barata Feyo, Maria Keil e Henrique Moreira), o edifício recebeu arranjos arquitecturais interiores de Jorge Segurado, design expositivo do próprio Segurado e Tomás de Mello /Tom e legendas de António Ferro, tudo numa qualidade museográfica inédita, absolutamente moderna e, à época, raríssima.
Tornando perenes as soluções decorativas desenvolvidas para as Exposições Internacionais pela equipa de decoradores modernistas (Fred Kradolfer, Bernardo Marques, José Rocha, Carlos Botelho, Thomaz de Mello/Tom, Emmerico Nunes, Paulo Ferreira, Estrela Faria e Eduardo Anahory) que Ferro congregou, o Museu recebeu qualificados frescos murais de Tom, Manuel Lapa, Paulo Ferreira, Estrela Faria e Carlos Botelho, bem como fotografias de Mário e Horácio Novais e de outros fotógrafos modernistas.
As soluções museológicas não se orientaram pelos modelos modernistas norte-americanos que, nos anos 30, o MOMA desenvolveu, mas pelos exemplos europeus modernistas coevos (nomeadamente franceses e alemães) que, em plenos anos 40, declinaram por toda a Europa. Bastaria esse facto para lhe assegurar a maior importância museográfica a nível internacional.

Recorrendo a materiais simples (madeiras, contraplacados, metais), com uma fluidez de espaços e cuidados de iluminação inéditos, o MAP foi o primeiro museu português com uma museologia integralmente moderna e concebida de raiz. O cuidado na apresentação das colecções foi acrescido de um sentido decorativo moderno, cenográfico e festivo que Ferro vinha desenvolvendo desde as suas «Campanhas do Bom Gosto» que lançaram os fundamentos do design contemporâneo em Portugal.
As suas colecções, ainda por estudar, constituem o documento vivo da recolha e também da invenção etnográfica desenvolvida pelo SNI desde os anos 30.
Juntamente com a produção recolhida junto de artesãos e artífices logo a partir de 1933 (barros, têxteis, mobiliário, ourivesaria, cestaria, escultura, vestuário, cutelaria, metais, instrumentos musicais, veículos, modelos de barcos), e apresentada nas exposições de Arte Popular Portuguesa que o SPN/SNI apresentou, com grande sucesso, em Tripoli, Paris, Genebra, Nova Iorque, São Francisco, Sevilha e Madrid, o MAP recolheu igualmente outro tipo de produções: desde logo exemplos de mobiliário e cerâmica que remontam ao século XVIII, e que ajudam a compreender a disseminação das formas da cultura erudita junto das classes populares. Além deles, recolheu também objectos elaborados sob orientação de artistas como Paulo Ferreira junto de artesãos - a colecção de Galos de Barcelos, por exemplo, ilustra bem esta invenção folclórica, apresentando os seus protótipos formas e tipologias bem diversas do modelo iconográfico do Galo Negro fixado nos Anos 50.

Rui Afonso Santos



Sala do Minho - Galos de Barcelos
Copyright: © IMC / MC


Instituição / Proprietário: Museu de Arte Popular
Número de Inventário do Objecto: CER 1805/83
Denominação / Título: Representação zoomórfica - Galo de Barcelos - Barcelos
Copyright:© IMC / MC


Instituição / Proprietário: Museu de Arte Popular
Número de Inventário do Objecto: CER 2629/83
Denominação / Título: Representação zoomórfica - Galo de três pés - Barcelos
Copyright: © IMC / MC

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O MAP no Inventário do Património do IPPAR

O edifício do Museu de Arte Popular teve no inventário do património do IPPAR divulgado na net uma extensa ficha de identificação, descrição e registo histórico muito mais completa e informativa do que aquela que é agora acessível no site dos mesmos serviços, em vias de integração no actual Igespar.

A versão resumida, que agora se pode ler aqui, é já posterior a 2007 e à "Revogação do Despacho de 12 de Novembro de 1991 que Determinou a Abertura do Processo de Instrução Relativo à Eventual Classificação do Museu de Arte Popular, por Despacho de 28-11-2007 do Director do Igespar".

Note-se que agora se omite a referência ao arquitecto Jorge Segurado, que readaptou o pavilhão de 1940 para a Exposição do Mundo Português para que nele se instalasse em condições definitivas o Museu de Arte Popular, anunciado em 1944 e inaugurado em 1948. A omissão tem especial gravidade por não distinguir entre a configuração arquitectónica do edifício em 1940, no seu exterior e no interior, e o que foi a sua modificação mais ou menos notória entre 1943 e 47. De facto, é esse estado final e actual do edifício (com as suas posteriores alterações) que se encontra salvaguardado pela ZEP e não qualquer "traça primitiva" de 1940.
Outra omissão relevante respeita aos processos de obras que o edifício atravessou, e especialmente as que se iniciaram em 2000, ao abrigo do POC, com vista à reabilitação das instalações do Museu de Arte Popular.

Antes da
"Revogação do Despacho de 12 de Novembro de 1991 que Determinou a Abertura do Processo de Instrução Relativo à Eventual Classificação do Museu de Arte Popular" - por Despacho de 28-11-2007 do Director do Igespar - era assim:
PATRIMÓNIO
Protecção
Em vias de classificação; incluído na Zona Especial de Protecção do Mosteiro de Santa Maria de Belém (v. PT031106320005)

Enquadramento
Urbano, destacado, isolado, implantado em plataforma costeira, junto ao Rio Tejo entre as docas de Belém e de Bom Sucesso. A N., separado pela estrada e linha férrea de Cascais, o Centro Cultural de Belém (v. PT031106320402). A O., os edifícios da Defesa Marítima e a E. o Espelho de Água (v. PT03110320601) e o Padrão dos Descobrimentos (v. PT031106320600).

Descrição
De planta irregular, em L, composta pela articulação de vários corpos de planta rectangular e quadrada, o edifício apresenta volumetria escalonada, sendo a cobertura efectuada por telhados a 4 águas e em terraço. A organização dos volumes acentua a sua distribuição horizontal, e caracteriza-se genericamente por corpos de duplo pé direito, com caixa murária em reboco pintado com roda-pé em tijolo, e abertura a ritmo irregular de janelões estreitos rectangulares, dispostos em agrupamentos.
O alçado principal a N. é constituído por 5 corpos interligados entre si. Distingue-se a O., corpo mais elevado de secção quadrada, que se assemelha a uma torre sineira, apresentando, a preceder a cobertura, 1 janela de peito por alçado. A eixo e num corpo reentrante relativamente aos 2 corpos que o ladeiam (situados no mesmo plano), identifica-se o acesso principal ao interior do edifício: 3 arcos de volta perfeita, perfurados ao nível do piso térreo por vãos de verga recta, e preenchidos superiormente por material cerâmico disposto de forma padronal.
Ao corpo intermédio a O., flanqueado pelo acesso e pela torre, adossa-lhe um corpo rectangular que actua como pátio interior; localizado num plano avançado relativamente aos corpos descritos, podem observar-se alçados com abertura de arcaria em volta perfeita. Identifica-se ainda na parte posterior do corpo a E., caixa murária sobrelevada, revestida de material cerâmico, correspondente a um outro módulo do edifício.

Nos alçados laterais, destaca-se a integração de painéis escultóricos com representações em baixo e médio relevo de várias actividades rurais.

Com acesso através de átrio amplo, os espaços definidos pela volumetria exterior, articulam-se entre si no interior, através de corredores, e correspondem a diferentes zonas temáticas do Museu, em cuja componente ornamental se destacam obras de pintura e escultura aplicadas à arquitectura da autoria de Fred Kradolfer, D. Tomaz de Melo (Tom), Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmérico Nunes, José Rocha, Estrela Faria, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory. (*)

Arquitecto Construtor Autor
ARQUITECTOS: António Maria Veloso Reis Camelo (1899 - 1985) e João Simões (n. 1908) / Arq. Jorge de Almeida Segurado ( 1898-1990 ), adaptação a museu anos 40;
ESCULTORES / PINTORES: Fred Kradolfer, D. Tomaz de Melo (Tom), Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmérico Nunes, José Rocha, Estrela Faria, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory. (*)

Cronologia
1940 - inauguração do edifício integrado no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940, integrando a Secção da Vida Popular, organizada pelo Secretariado da Propaganda Nacional, aquela Secção de Vida Popular possuía 3 pavilhões ligados entre si recorrendo ao folclore como veículo do nacionalismo português, considerando os brandos costumes e o Estado Novo como factores de paz e refúgio;

1941- concurso público lançado pela Comissão Administrativa do Plano de Obras da Praça do Império e da Zona Marginal de Belém, para adjudicação da empreitada de adaptação e modificação dos Pavilhões da Secção Etnográfica Metropolitana a Museu de Arte Popular, sendo lançadas sucessivas empreitadas (**); o acervo do museu, basicamente do séc. 20, baseia-se na recolha de peças para a Exposição de Arte Popular Portuguesa, apresentada em Genebra, em 1935;

1948 - inauguração do Museu após uma adaptação às novas exigências funcionais, com algumas alterações construtivas, em particular nas fundações e paredes exteriores, considerando 5 salas representando as regiões de Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo, Ribatejo e Algarve;

1970 (década de) - desse conjunto de edifícios, também designados por secção Etnográfica Metropolitana foram demolidos corpos a Poente onde se inseria a torre farol, que subsiste ainda hoje a SW, isolada;

1991 - por despacho datado de 12 de Dezembro foi determinada a abertura do processo de classificação do imóvel;

1995 - inauguração da Sala de Exposições Temporárias.

Tipologia
Arquitectura civil educativa e cultural, do Estado Novo - pavilhão de exposição / museu.

Características Particulares
De volumetria agarrada ao terreno possui uma gramática arquitectónica e decorativa de influência historicista e popular com grande unidade e simplicidade na composição das suas fachadas. O edifício do Museu constitui hoje um dos objectos memória e simbólicos da Exposição do Mundo Português de 1940, onde como Pavilhão Expositor de carácter efémero e cenográfico integrava a Secção de Vida Popular. As obras a que foi sujeito para museu, não alteraram o seu carácter.

Dados Técnicos
Paredes autoportantes

Materiais
Alvenaria mista ( tijolo na sua maioria ), reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado

Intervenção Realizada
DGEMN:

1941/1948 - estudo de consolidação; substituição das fundações das paredes com 0.40 x 0.50m por alvenaria de pedra rija; no solo uso complementar de estacas betonadas com comprimento médio de 3.00 m: 2 estacas na periferia e no eixo da fundação das paredes, 4 estacas nos cunhais das paredes, 1 estaca intermédia no eixo da fundação das paredes com 5.00m de distância entre montantes e intervenção ao nível das paredes exteriores, para remodelação para a nova função;
1950, Janeiro - Reparação do tecto e telhados do claustro: levantamento da cobertura, substituição dos madeiramentos, arranjo dos beirados e tectos, nova cobertura em telha portuguesa, tectos de madeira e estafe e pintura a óleo das madeiras;

1985 - reparação da cobertura e dos esgotos na zona denominada dos claustros;

1995 - obras de recuperação; inauguração de uma sala para exposições temporárias;

2000 / 2003 - Projecto de reabilitação - 1º fase ( MAP - salas das Beiras, Ribatejo, Estremadura e Alentejo ): demolição das esteiras, instalação da rede eléctrica, protecção de pinturas murais e do espólio museológico; renovação das coberturas; drenagem dos pavimentos térreos, drenagem periférica, pré-instalação de redes eléctricas e de detecção de segurança, reabilitação das instalações sanitárias; Aplicação de tijoleira, recuperação e tratamento de paredes; recuperação das carpintarias das escadas e galeria; Protecção de pinturas murais nas salas Algarve, Pátio, Trás-os-Montes e Entre-Douro e Minho; Acondicionamento e transporte das peças museológicas das Salas do Átrio, Trás-os-Montes, Entre- Douro e Minho para as Salas das Beiras e Alentejo; Recuperação de vãos interiores e exteriores ( portas e janelas); recuperação de gradeamentos ( exteriores ); Restauro de equipamento de expositores ( madeira, vidros ); colocação de todo o equipamento sanitário; colocação de estores interiores tipo sol-screen; pintura de paredes interiores; instalação de rede de segurança ( Incêndio e Introsão );

2004, Setembro - Projecto de Reabilitação - 2ª fase (Espaço da Recepção, Salas Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes, dos Carros e do Algarve): Reabilitação e recuperação das coberturas e suas estruturas correspondentes aos espaços da Recepção e das salas de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Algarve e dos Carros, optando-se por painéis sandwich de estrutura semelhante à cobertura jà reabilitada, contemplando a execução de caleiras, o capeamento das empenas e dos muretes a chapa de zinco nº 12 com juntas agrafadas e a colocação de tubos de queda das águas pluviais e respectivos capitéis em cobre, com secção de 80 x 120mm, em cor natural, que se tornará acastanhada com o tempo, e mangas protectoras até à altura dos socos das fachadas; execução de escada interior em aço galvanizado, de acesso às coberturas pela Torre, e de 5 escadas exteriores de articulação e acesso entre as coberturas das diversas salas, do mesmo material; defenição das grelhas metálicas, alçapões, guarda pés e guardas de protecção laterais dos passadiços do Tipo 1 e 2, de visita aos plenos da cobertura, do projecto de estruturas; execução de uma rede de Iluminação e de detecção de incêndios junto à cobertura de apoio ao respectivo pleno ( em fase posterior será integrada uma 2º rede nos tectos falsos ); construção provisória de um túnel de acesso às respectivas instalações devidamente protegido; protecção dos frescos nas Salas da Recepção e do Algarve de modo semelhante ao executado na 1ª fase das obras; protecção do mobiliário fixo nas Salas de Recepção e Entre-Douro-e-Minho, de modo semelhante ao executado na 1ª fase das obras.


(*) Esta lista de pintores decoradores indicada pelo Ippar corresponde ao registo dos colaboradores da Exposição do Mundo Português em 1940, nos Pavilhões da Vida Popular. Essas foram decorações efémeras para um pavilhão temporário, e só alguns dos anteriores decoradores foram chamados na seguinte fase de obras que se iniciou em 1942 e se encerrou em 1948 com a inauguração do Museu de Arte Popular. D. Tomaz de Melo (Tom) orientou a equipa de pintores de 1947-48 em que participaram comprovadamente Carlos Botelho, Estrela Faria, Paulo Ferreira, Eduardo Anahory e o muito presente Manuel Lapa. Mas já não Fred Kradolfer, Bernardo Marques, Emmérico Nunes e José Rocha, tanto quanto agora se conheced. Este erro, que tem origem no volume comemorativo editado já em 1956 - Mundo Português. Imagens de uma Exposição Histórica, 1940 - foi muitas vezes repetido.
Essa mesma lista omite os escultores, que foram Barata Feyo e Henrique Moreira, em 1940, mais Júlio de Sousa em 1943-48, além da fonte decorativa com elefantes que foi desenhada por Cottineli Telmo em 1942, da junta de bois que aí permanece (projecto de 1943) e de 9 bonecos decorativos da autoria de Maria Keil, entretanto desaparecidos.

Sobre as esculturas decorativas encomendadas para o Museu de Arte Popular (1942-48)
ver,
Helena Elias, "A EMERGÊNCIA DE UM ESPAÇO DE REPRESENTAÇÃO: ARTE PÚBLICA E TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA ZONA RIBEIRINHA DE
BELÉM", in On the W@terfront nº 6, sep. 2004, publicación online del Centre de Recerca Polis de la Universitat de Barcelona - http://www.ub.edu/escult/Water/waterf_06/W06_03.pdf
(consultado em 2009.Junho.10)

Alexandre Pomar


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António Pinto Ribeiro sobre a política cultural em Portugal

(...) o Ministério da Cultura deve ser uma organização de gestão cultural diversificada que não pode ser colapsada por iniciativas paralelas como, por exemplo, as que têm sido tomadas pelo Ministério da Economia, para todos os efeitos um ministério por vezes contra a Cultura.
Do mesmo modo que a conservação do património (é sempre mais correcto designar como herança cultural) não se pode reduzir à conservação dos castelos ou a declarações em abstracto. No caso concreto, um exemplo da conservação da herança cultural será a conservação e activação concreta do Museu de Arte Popular.

Excerto do artigo de opinião Cultura e governação de António Pinto Ribeiro no Público de Hoje.


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A tentação pós-ditatorial de reescrever o passado...

... ou a raiva serôdia sobre o Museu de Arte Popular

(...)

Ainda que a ditadura salazarista e o seu estertor marcelista possam servir de caução às perversidades que hoje impunemente se assistem no nosso regime democrático, Portugal existiu antes do 25 de Abril de 1974 e, ao contrário do que determinam os manuais escolares, o nosso País não foi só uma revista do Parque Mayer dedicada a Fátima, ao futebol e ao fado, ou mesmo somente um quotidiano de pides a perseguir revolucionários. Portugal também existiu para além da guerra colonial e da emigração em massa. Existiam jovens, existia criatividade e, apesar das dificuldades e do risco, havia confronto de ideias. Em particular, durante a Segunda Grande Guerra, o nosso País viveu um período artístico marcante e de expressão internacional. Não isento de críticas e contradições, é certo. Com injustiças e perseguições, também não é menos verdadeiro, mas, ao contrário de hoje, com uma intensa produção artística e cultural apoiada pelo Estado. Mesmo agora não é possível compreender o modernismo em Portugal, o surgimento de correntes de ruptura e de inovação artística que se rebelaram contra os padrões hegemónicos da estética da ditadura se não conhecermos a produção artística e cultural do “Estado Novo”, se não conhecermos as suas escolas, os seus mestres e, sobretudo, as suas obras.

Vem esta reflexão a propósito da resolução serôdia do Conselho de Ministros, do passado dia 7 de Maio, de querer reconverter o Museu de Arte Popular, em Lisboa, em Belém junto ao Padrão dos Descobrimentos, no denominado Museu da Língua. Insurgimo-nos não contra esta iniciativa - venha daí o museu da nossa tão maltratada Língua! – mas sim contra essa absurda decisão de separar o espólio dedicado às artes e ofícios portuguesas do edifício que lhe foi especialmente dedicado, o único que restou, da célebre do da Exposição do Mundo Português de 1940. Para lá do testemunho arquitectónico de uma época e de uma tipologia de conceitos artísticos que nos ajudam a compreender a História, o edifício desde que foi encerrado em 2004 conserva ainda no seu interior um conjunto vasto de pinturas murais de Thomaz de Melo (Tom) e de vários outros artistas plásticos que coordenou, como Carlos Botelho, Eduardo Anahory, Estrela Faria, Paulo Ferreira e os escultores Barata Feyo e Henrique Moreira.

Voluntária, ou talvez não, com esta atitude o governo da república impõe através dos terrenos da museologia uma outra “nova” Política do Espírito condenável a todos os títulos, não só porque se trata de uma grosseira tentativa de querer reescrever a História, ao dar o triste exemplo aos cidadãos da desqualificação e abandono de uma parte do rico património cultural e artístico português e do apagamento de um modelo de memória vernacular e rural, mas, sobretudo, pela antinomia arrogante de querer impor aos vindouros que Portugal não existiu numa boa parte do século XX.

Artigo de Miguel Bandeira, Professor na Universidade do Minho, publicado no Jornal da Associação Académica da Universidade do Minho (20 de Maio de 2009). Ler na íntegra.


Pintura mural (certamente) de Eduardo Anahory (sala de Trás-os-Montes).

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Depoimento de Sérgio Lira

Tenho acompanhado com alguma distância o processo relativo ao Museu de Arte Popular com uma (ingénua?) esperança de que alguém de entre as esferas do "poder" tivesse finalmente senso e, melhor que isso, fizesse os seus pares terem-no também. Parece que era, de facto, uma esperança insensata. Este processo surge ao olhos do menos avisado ou do menos atento dos cidadãos como um conjunto imenso de despropósitos, de decisões incoerentes, de manobras de gabinete pouco claras ou pouco explicadas... aos olhos do mais atento começa a ser absolutamente impossível continuar a tentar acreditar na boa-fé e na valia das decisões que nos vão sendo dadas a conhecer. Por isso me permito enviar este e.mail, suportando a causa de tentar impedir a destruição daquela unidade museológica.

O Museu de Arte Popular foi um dos meus objectos de estudo aquando da tese e doutoramento que realizei na Universidade de Leicester, sob o título "Museums and Temporary Exhibitions as Means of Propaganda: the Portuguese case during the Estado Novo" [http://www2.ufp.pt/~slira/phdintro.htm]. A decisão de usar o Museu de Arte Popular como um dos casos em análise foi talvez das mais fáceis, no processo de escolha dos casos para esse trabalho. De facto, o Museu de Arte Popular herdava directamente o espólio material e simbólico do Pavilhão da Vida Popular e era, por isso, de superior interesse em termos de análise. Acresce que a sua manutenção num estado de imobilismo quase total ao longo de mais de meio século o transformava num delicioso (perdoe-se a expressão) objecto de estudo. Além disso, a relação umbilical do Museu de Arte Popular com o SNI apontavam-no como um dos pólos excepcionais de estudo da propaganda ideológica do Estado Novo. Outro fenómeno então observado, e que me pareceu relevante, prende-se com o número de visitantes que esta unidade museológica recebia: nos anos 1960 este museu registou números anuais de visitantes portugueses entre os mais de 10.000 e picos de quase 30.000; os totais, contando com visitantes estrangeiros, atingiam 35.000 a 40.000. Interessante de observar que em 1974 o número total de visitantes nacionais foi de cerca de 45.000, tendo o total absoluto ultrapassado os 70.000. Mais interessante ainda será verificar que 77% dos visitantes deste ano revolucionário se concentraram em Maio e que uma esmagadora maioria destas vistas (ao contrário dos anos anteriores) foi grátis. Ou seja, sem argumentar e sem concluir, no ano da revolução, no mês seguinte à revolução, o povo visitou como nunca um dos baluartes da propaganda do Estado Novo. Interessante, no mínimo. Irritante, talvez.

A zona urbana em que o Museu se encontra é outro dos aspectos que, julgo, merece alguma atenção: zona degradada aquando da decisão de lançar a grande exposição de 1940, passou a área privilegiada e de impacto propagandístico desde então. Não terá certamente sido por acaso (ou estarei a ver "no escuro"...) que o CCB foi edificado na exacta localização dos Pavilhões dos "Portugueses no Mundo" (E se mais mundo houvera lá chegara) e "Portugal 1940"  onde o Estado Novo realizou a elegia da cultura dita da portugalidade (O nome destes e doutros tornou maior o nome de Portugal) e das suas próprias realizações, numa intoxicante campanha de insuflação das realizações financeiras dos anos 1930. Neste, eventualmente mais que em qualquer outro pavilhão, o regime pretendia apresentar-se na sua máxima potência de propaganda, da fachada ao miolo. Actualmente o CCB ocupa esse espaço. Logo por detrás estavam as "aldeias portuguesas"  (que faziam o contraponto do Jardim Colonial, onde os nativos coloniais e os nativos da "província" se mostravam aos visitantes citadinos) e a passagem para o Pavilhão de Arte Popular, que culminava, na exibição da cultura material, o elogio da portugalidade original. Actualmente, do CCB pode avistar-se o Museu de Arte Popular... mas, e julgo que me perdoarão a ironia, que visão desalentada! aquela mole de pedra, qual templo "grego" coevo de um período em que uma certa "mania das grandezas" parecia encher de vento alguns peitos nacionais... fica tão mal acompanhado pelo miúdo, amesquinhado e memorial-de-outros-tempos Museu de Arte Popular; não rimam, não lhe fica nada bem. Parece perceber-se que a usurpação realizada pelo CCB do espaço urbano dignificado (ao menos em memória subliminar) pela acção de 1940 não ficará completa sem que se arrase definitivamente com o resto da memória (essa arquitectónica e física) incómoda que é o Museu. Mas isto é puro exercício interpretativo, quem sabe desprovido de qualquer razão.

O que não é interpretação, o que é facto puro e duro, é que o Museu de Arte Popular é um elemento essencial da memória museológica; é que as suas colecções tem valências intrínsecas e epocais de valor indubitável em termos museológicos e históricos; é que a sua destruição é uma perda irreparável. Compreendo que haja interesses em fazer desaparecer esse Museu, ganhando o seu espaço, permitindo outros projectos. Mas a coincidência desses dois desígnios é que me parece incompatível com a ética republicana que adoptámos há 35 anos; a estranha obsessão por aquele "lugar" é que me parece perigosamente próxima da forma de actuar de 1940... se sim, então a propaganda ideológica do Estado Novo, ali tão visível, ficou-nos (aos nossos governantes) mesmo debaixo da pele, foi mesmo (demasiadamente) eficaz!!!






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Editorial de Luís Raposo, presidente do ICOM-Portugal

O ‘caso’ mais recente do Museu de Arte Popular é o único sobre o qual ainda não nos pronunciámos formalmente – o que faremos na primeira oportunidade. Mas devemos desde já adiantar que entendemos constituir um erro museológico crasso desmerecer ou, pior ainda, pretender ‘apagar’ essa colecção e esse conceito de museu, sem dúvida datado e porventura incómodo para algumas elites actuais, mas incontornável em termos históricos e até cativante para muitos apreciadores dos nossos museus. Constitui, por outro lado, uma violência inqualificável, porventura mesmo um crime patrimonial, destruir ou impedir a fruição plena do edifício do museu, tanto nas suas volumetrias exteriores, como no seu interior, povoado este por frescos monumentais, alguns de grande qualidade artística. Tal como quanto ao Museu dos Coches, trata-se de mais um caso em que ‘conteúdo’ e ‘contentor’ constituem um todo coerente e indissociável, que importa preservar a todo custo.

Excerto do editorial de Luís Raposo, presidente da direcção do ICOM Portugal, no Boletim Informativo do ICOM.PT de Junho-Agosto 2009. Ver texto na Íntegra.



Minho, Caixa de Brinquedos de Portugal, pintura mural de Tom (Tomás de Mello) e Manuel Lapa, no Museu de Arte Popular, 1948. Fotógrafo: José Pessoa, 2008 © IMC / MC
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Museu de Arte Popular na Time Out desta semana


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Museu de Arte Popular na L+Arte deste mês



(o artigo continua no número de Junho de 2009 da revista L+Arte).


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Depoimento de João Appleton

Sou céptico por natureza, ou talvez por formação, que os engenheiros são dados a isso, a acreditarem apenas nos factos comprovados e cientificamente comprovados; por isso, nunca me deixo empolgar, nem desfaleço com as notícias que se vão lendo, vendo ou ouvindo na comunicação social, para mim a opinião pública raramente coincide com a opinião publicada e, mesmo quando parece formar-se uma opinião colectiva reservo a minha, não vá o diabo tecê-las.

Mas, e apesar disso, a constância com que se vão debitando e remoendo notícias das mais variadas origens acerca do Museu de Arte Popular, mesmo o meu cepticismo vacila, alguma coisa anda no ar, embora de contornos imprecisos, como é de bom tom num país em que a franqueza nunca fez fortuna.

Afinal, há uns quantos anos fui tirado do meu sossego com um convite para colaborar na reabilitação do edifício do Museu, naturalmente na sua componente estrutural, de coberturas e de drenagem, uma vez que aqui estavam os problemas que afligiam o Museu, lhe quebravam o ânimo, que um museu, mesmo de arte popular, não se fez para estar à chuva nem para ter os pés dentro de água.

O convite veio, julgo a esta distância, do então Instituto Português de Museus, por interposta e entretanto extinta Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, e a ideia inicial seria a de se refazer inteiramente a cobertura,
estrutura incluída e mais o amaldiçoado fibrocimento que o amianto condenara; como não sei fazer arquitectura, e nem mesmo tento arremedá-la, requeri presença de arquitecto que entendia essencial para diferentes desenhos e escolhas que
a minha leveza de simples engenheiro não me consentia, daí a entrada do Victor Mestre em quem sempre me apoiei, então ainda bem-quisto na ex-DGEMN.

Para surpresa de alguns, admiti-o então e agora também, propus que se mantivesse a estrutura de cobertura, de madeira e aço que se apresentava escorreita, aqui e ali adoentada, mas não nas salas principais, apenas carecendo de alguns tratamentos e carinhos, como é normal em edifícios de meia idade; então, como agora, pareceu-me importante conservar sinais bastantes da construção original, efémera enquanto da Exposição do Mundo Português, com perenidade consentida com a promoção a Museu.

Não me moveu qualquer espécie de saudosismo, que o Estado Novo nunca me seduziu, mas tão somente a preocupação com a leitura integral e correcta de um edifício quase monumento, exemplar escasso dum momento histórico que não devemos esquecer, gostando ou não dele; além disso a estrutura, repito, estava generalizadamente em estado razoável de conservação, provavelmente já resultado da transformação em museu.

Deu trabalho, que é sempre mais fácil demolir e fazer de novo, reparar e reforçar o existente é trabalho duplo ou triplo e o trabalho correu devagar, em fases e sub-fases, ao longo de anos, mudando empreiteiros e soluções; no final, que é quase como tudo está agora, ficou o edifício renovado na cobertura, bem drenado e estruturalmente competente, preparado para mais umas décadas de vida útil.

O espólio do Museu andou em bolandas, mas sempre na esperança de voltar a casa e aquela é a casa e a cara do Museu de Arte Popular; não me aborrece a Língua que também me pertence, mas ali o seu museu, porquê? Entre tantos edifícios públicos mais ou menos vazios e abandonados logo aquele que tem destino certo, que na sua simplicidade quase ingénua, nos materiais e nos elementos decorativos, tinha que ser para as Rosas Ramalhos que sempre tivemos.

Bem vistas as coisas começo a sentir-me indignado com as notícias que talvez nem sejam verdadeiras, podem ser apenas boatos insidiosos próprios de campanhas eleitorais e a minha indignação, perdoem-na, é dupla, pois como cidadão quero o Museu de Arte Popular e quero-o ali, onde trabalhei para lhe viabilizar a velhice.

Depois da derrocada de parte do telhado da sala do Algarve a 19 de Outubro de 1999, foi solicitado ao engenheiro João Appleton em Fevereiro de 2000 pelo então IPM um estudo para uma nova cobertura. O engenheiro João Appleton, com grande experiência em obras de reabilitação aconselhou a que se optasse por um trabalho de reabilitação, uma solução menos sofisticada mas com mais compatibilidade com a estruturas das paredes e favorável para o edifício no seu todo, garantindo estabilidade e durabilidade. 



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Resposta de Raquel Henriques da Silva às declarações do Ministro da Cultura

Resposta de Raquel Henriques da Silva às declarações do Ministro da Cultura publicadas na passada segunda-feira pelo jornal Público (ver artigo na íntegra aqui):

Em relação às declarações do Ministro da Cultura (MC) ao Público de ontem sobre a petição que decorre on-line para salvaguardar o Museu de Arte Popular (MAP), interessa esclarecer o seguinte:

1- O  MC esconde que, além da petição on-line, foi  entregue outra, no dia 28 de Maio, ao seu Chefe de Gabinete, subscrita por personalidades relevantes, entre elas todos os responsáveis pela política museológica nas últimas décadas, exigindo a reabertura do processo de classificação do MAP, acintosamente suspensa em 2007, quando foi tomada a espúria decisão de o reconverter em Museu Mar  da Língua.

2- O processo da destruição do MAP não é nem “antigo” nem “longo”. Só nasceu em finais de 2007, quando a então MC resolveu copiar o Museu de S. Paulo dedicado à mesma temática e instalá-lo num museu histórico em que estavam a decorrer obras de requalificação, com financiamento europeu. Essa candidatura, que eu apresentei ao Programa Operacional da Cultura, destinava-se expressamente  à valorização do museu existente, pelo que é muito discutível a sua apropriação oportunista para outra finalidade.

3- Em relação à “ponderação” de tal decisão, os factos falam por si: a reconversão do financiamento em curso para nova finalidade não avançou e foi o actual MC que teve de decidir encontrar outro caminho. Ponderou imenso também, chegando a anunciar que o Museu da Língua seria instalado na Estação do Rossio, para depois dar o dito por não dito, regressar ao MAP e entregar-se nos braços da Frente Tejo. Dá assim continuidade à sua original política, iniciada com a entrega do projecto do novo Museu dos Coches ao Ministro da Economia.

4- Saúdo o facto de o MC aconselhar a que nos informemos. Aqui vai o pedido: em que concurso foi escolhido o atelier de arquitectura para instalar o Museu da Língua no MAP? Confirma que o projecto museológico está a ser elaborado pelas empresas Y-Dreams e Produções Fictícias? Com que critérios foram contratados? Qual é o custo de obra previsto? A quem vai pertencer a gestão do novo museu? Quem está a acompanhar estes projectos que vão violentar um edifício cuja classificação estava em curso e que, garanto, vamos conseguir reabrir?

5- Última pergunta, francamente ingénua: quais são o conceito e o programa do Museu da Língua? Quem os elaborou?


Raquel Henriques da Silva
Ex-Directora do Instituto Português de Museus (1997-2002)

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Ministro da cultura sobre a petição em defesa do Museu de Arte Popular

Ministro da Cultura questionado pelo Público sobre a petição lançada na passada sexta-feira:

O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse hoje que não vai comentar a petição a favor da manutenção do espólio do Museu de Arte Popular nas suas antigas instalações, em Belém, e confirmou que o processo de instalação do Museu da Língua nesse mesmo local está a avançar. A petição, que está disponível online, recolheu até agora 1200 assinaturas.
"Não tenho a petição e não me vou pronunciar sobre isso. O que posso dizer é que é um processo antigo, longo, que foi objecto de ponderação pela senhora ministra da Cultura que me antecedeu [Isabel Pires de Lima], e que as pessoas que deviam informar-se antes de se pronunciarem sobre isso", declarou Pinto Ribeiro, que falava no final da apresentação da Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanidade, na Torre de Belém.
Sem querer adiantar datas para os próximos passos no processo do Museu da Língua, o ministro considerou "extraordinário que decisões tomadas há tantos anos, que já estão orçamentadas e para as quais já foi afecto dinheiro" sejam agora postas em causa. Informações mais específicas só dará na próxima ida à Assembleia da República. (...)

Alexandra Prado Coelho



Interior de sala (objectos variados)
© IMC / MC

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